And, if it’ll make you feel any better, you can call me Arthur.
Sabem aquela sensação na espinha de arrepio? Aquela que acontece
quando ouvem uma música que é muito mais que isso, uma fotografia que
representa não o momento, mas sim a situação, uma recordação que
representa um momento dos mais importantes da vossa vida? Sabem aquele
arrepio que sobe espinha a cima, pronta a atacar? Fui isso que senti ao
acabar de ver este episódio de Dexter.
Apesar de um pouco inferior ao anterior, Lost Boys vem colocar as
peças que faltavam para o final ser perfeito. E, assim sendo, consegue
já colocar esta temporada a níveis superiores que a segunda e a
primeira (minha ordem de preferência), levando a concluir que o
semi-tédio ultrapassado na última temporada valeu a pena.
Para isso, o episódio levou ainda mais avante a narrativa de
Dexter/Arthur, transformando o monstro de John Lithgow num monstro
ainda maior. Após matar a sua família, ou melhor, a representação da
sua família, Trinity trás uma informação explosiva: o rapto de uma
criança. Introduzir novas informações nesta altura da narrativa
poder-se-ia tornar um erro, pois o tratamento que sofreria seria
escasso para satisfazer. Mas esse risco foi ganho. Com a introdução da
criança de 10 anos (importante pormenor) no ciclo de Trinity tudo fica
completo, tudo fica perfeito. Ou melhor, no ciclo de “Quarnity” tudo
começa com uma criança. A sua representação, a sua perda da inocência
representada pela morte. A morte de uma criança, o nascimento de um
monstro.
Para além disto, poderemos ver este “esconder” do corpo como uma
metáfora para a vida de Arthur. Escondido a partir do momento que a sua
inocência se perdeu, sempre protegido. Mas não é isso que acontece.
Dexter, ao descobrir a verdadeira face do assassino escavou pelo
cimento fundo e trouxe a superfície. Tal como fez com o rapaz, só que
neste ainda foi a tempo de salvar a sua inocência. Mas, e para uma
série onde se critica a existência de um ritmo baixo, a série, com o
jogo do rato e do gato, conseguiu imprimir uma velocidade estonteante
na procura, algo que não me lembro de ver desde a primeira temporada,
quando Dexter procura o local onde a irmã está presa.
E aqui se vê uma mudança radical na personalidade de Dexter: se, na
primeira temporada, a procura exaustiva é pela irmã, nesta isso é por
um rapaz desconhecido. Dexter mudou os seus critérios e prioridades,
tal como diz Harry, pois agora é pai. Tornou-se mais humano, mais
paterno, o que o leva a procura daquilo que não lhe pertencia, mas que
ele sentia necessidade de procurar. E aqui se vê a importância familiar
para Dexter: o serial killer está já apegado a sua mulher e aos seus
filhos e vice-versa. A luta que Cuddy tem representa isso, o amor
demonstrado pelos filhos de Rita pelo analista de sangue. E é aqui que
Dexter vê que não é tão diferente de Arthur: esconde-se atrás da sua
família, como uma máscara que Harry nunca pensou.
Mas, e devido a falta de informação, aqui se encontra outro erro do
serial killer. Arthur não é nada apegado a família, e sim está a ele.
Exemplo disto é Christine, que passou de uma personagem sem importância
para a personagem chave da série. É com esta que outro desenvolvimento
se dá, com a confirmação de que ela é mesmo filha de Arthur. E, também,
de que foi ela, para salvar o pai, que atirou em Lundy e Debra, num
acto desesperado que não estava nos planos de Arthur. A cena em que ele
se enerva no carro é fantástica, após a paz de alma demonstrada a
frente da sua “amada”. Agora, com a filha presa, vamos ver como Arthur
reage a todos os acontecimentos que lhe estão a acontecer.
E, agora, os retalhos do episódio:
- A excelente abertura de Dexter, com aquela seringa, vem demonstrar que a série em termos de pormenores é fantástica.
- Mudança de espaço para o “consultório” do assassino. Volta ao
início, ao local onde tudo se perdeu e onde ele se verdadeiramente
encontrou. - A importância que o filho de Arthur teve neste episódio, dando uma
ajuda imprescindível a Dexter para salvar uma criança. Se calhar ainda
será utilizado. - Masuka irá contar a Dexter aquilo que viu. Agora foi interessante ver aquela intensa correria atrás do seu amigo.
- Já viram que, quando Batista e La Guerta não perturbam o episódio, este fica mais interessante?
- DAR UM PRÉMIO A JOHN LITHGOW, SFF.
De novo Dexter mantém um ritmo fantástico. A temporada está quase a
acabar e isto promete. E, para ainda aumentar a distância, vejam o
perfeito promo que se segue. Por vossa conta e risco.